Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos

SAPATOS

O barquinho do amor submergia. Ao fundo os furos de confiança faziam água. Deu seta para a esquerda e partiu para o Shopping. Rumo ao carro perdido no estacionamento cantarolava, feliz, com as três sacolas de sapatos nas mãos. Entra em casa,  chutando, descalçou-se. Senta-se na poltrona e sente dúvidas. Fecha os olhos, mistura as bolsas, apanha uma. Desfila para si mesma pela minúscula sala. Faz unidunitê com as outras sacolas. Novo desfile é realizado. Ao caminhar com o terceiro par adquirido, cai em conta de três coisas: 1 – Não tem mais onde guardar sapatos; 2 – Caso use um par por dia, em um ano não terá calçado nem a metade; 3 – O cheque especial está estourado. Descalça, sentindo-se tola, insegura e triste, toma o telefone e liga. Do lado de lá o silêncio.

 
 
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 29/02/2016
Alterado em 15/09/2016


Comentários
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Vany Grizante
... e no mesmo estilo do conto anterior, você parte para outra mulher, a urbana de classe média, com suas aflições e dores. Muito sensível!
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Diogenes R Cardoso
Olá Fernando! Os textos curtos têm este dom. Falar tanto com pouco. Das coisas que nos enchem deixando-nos mais vazios. Um abraço!
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Michele CM
Eu sofro desse mal!!! Sou uma centopéia com o dobro de sapatos e não ligo para ninguém para escutar silêncio... hahahahahahah Sapato, bolsa e livro, ai meu Deus! Nem terapia resolve! Muito obrigada pela sua visita! Adorei vir aqui! Um abraço
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Letranda
Nota como agora ela tem muito para se preocupar..dívidas, espaço, cores e combinações ? Talvez seja uma forma de não se obrigar a pensar no tal vazio... Mulheres tão complexas sendo tão completas.

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