Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


ESPÉCIES EM EXTINÇÃO (ec)

Outro dia recebi da WWF impactante listagem das espécies ameaçadas de extinção em nosso país e no mundo. Impressionou-me demais a extensão dela. E pensar que tantos e tantos animais foram extintos, somente nesses últimos duzentos anos, fruto do nosso descuidado com o lar no qual somos hóspedes: a Terra.

Refleti então sobre os seres que deveríamos tomar conta da Casa. Reparei que, também entre nós, temos seis espécies altamente ameaçadas de extinção. Atenção, eis que não se trata de rol construido a partir de critérios da ciência. É fruto somente da observação feita sobre as pessoas.

Ararinha Azul Cuidadosa. A primeira espécie da lista, extinta na natureza, a demonstrar o tamanho do descuidado humano em todos os níveis. Conosco mesmos, com os outros, com a terra e em relação à espiritualidade. A falta que a Ararinha faz é sentida ao se ver a solidão das pessoas, abandono, crianças de rua, gente morta após longa espera por cuidados médicos, como se a doença também fosse paciente.

Borboleta Monarca da Paz. Possivelmente, num dos seus voos, ela tenha sido atingida por alguma bala perdida. Ao falar de paz a Borboleta Monarca não nos convida a olhar somente para grandes conflitos.

Feitos, pasmem, a partir da incompreensão e incapacidade de aceitação do outro, do diferente. A sugestão que nos faz é para que miremos também as pequeninas e imperceptíveis guerras. A Borobleta da Paz quer representar também a superação dos conflitos que tantos carregam dentro de si, incapazes de se autoperdoarem, condição fundamental para a paz no coração. A paz no interior irradia-se pelo exterior das gentes, nos conta a Borboleta Monarca da Paz.

Mico Leão Dourado da Solidariedade. Nesses tempos da Pós-modernidade, nos quais prospera o individualismo e egoísmo, o culto ao “eu primeiro, em seguida eu e por último olha eu aí”, o Mico da Solidariedade tornou-se figurinha difícil de ser encontrada, tanto nos campos quanto nas cidades. Ao olhar para o continente que mais povoou o mundo, que construiu suas riquezas a partir do que carregava dos países explorados, fechando agressivamente as portas para aqueles que um dia o acolheu, nos damos conta do quanto o Mico Solidário faz falta à humanidade.

Mono Carvoeiro da Gentileza. O Mono, ou Muriqui, era encontrado por todo o canto. Bicho de fácil trato, é praticamente incapaz de se defender dos predadores humanos. Por isto beira à extinção. Por conta da sua falta gentileza, algo que deveria ser natural, tornou-se mesmo surpreendente. Ser gentil é comportamento altamente contagioso. Parece que por isto, um dos últimos espécimes de “Mono Carvoeiro” a viver numa cidade grande era reconhecido pelo lema, tão significativo de que “Gentileza gera gentileza”.

Papagaio Verdadeiro da Esperança. Olha-se em volta e só se vê problemas. Liga-se a Televisão e os telejornais parecem esguichar sangue e dor. Lê-se os periódicos e se nota o tamanho dos escândalos da corrupção e descaso com as coisas públicas. Aí é possível que apareça certo desânimo. Passa-se a considerar que não tem jeito, que caminhamos para o final do mundo, tamanha é a desfaçatez do mal. Aí é que nos damos conta do quanto é complicado não termos mais o Papagaio Verdadeiro da Esperança em nossos ares e árvores. Perdeu-se, literalmente, o verde dele, símbolo do se esperar contra toda não esperança existente.

Tico Tico da Alegria. Trata-se de passarinho pequenino e delicado. É reconhecido pelo topete da altivez. Por favor, não a confunda com arrogância. Ser altivo faz com que o Tico Tico valorize a alegria mais plena e profunda. Bem distinta daquela rasa e vazia, presente em gente de quem se diz ser autêntico “bobo alegre”. A título de curiosidade, lhes informo que na língua dos pássaros, tico tico significa estar duas vezes alegre (por isto a repetição do nome). Antes alegrava todos os lugares, trazendo sorrisos e gargalhadas aos ambientes. Com a tristeza reinante foi, pouco a pouco, perdendo o habitat, paulatinamente tomado pelos presunçosos pardais.

Minha lista é, tal qual aquela que registra os animais em risco de desaparecimento, bem maior. Temos nela a Arara Vermelha da Misericórdia, o Urso Panda da Comunicação Assertiva, a Onça da Liderança Inspiradora, o Tigre da Justiça e tantas outras espécies fundamentais à humanidade. Como sou pequeno para trabalhar no salvamento de todos, fiz essas opções. Agora, cá entre nós, quer se juntar a mim nessa empreitada?

 
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/12/2015
Alterado em 04/11/2016


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras