Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Ao conviver, ou mesmo gerenciar as pessoas é comum se observar que, mesmo fazendo parte da mesma equipe, cada membro poderá estar se mobilizando por diferentes coisas. O que mobiliza alguém poderá até desmobilizar o seu vizinho.

Por isto, jamais se deve considerar as pessoas como um bando no qual todos recebem igual tratamento, incentivos e desafios. Para conviver bem e liderar é necessário se conhecer e também ao outro.

Para que haja sucesso nos relacionamentos e na liderança saber dos próprios motivos, bem como também os daqueles dos liderados, é base fundamental não somente para a boa liderança, mas para uma vida mais integrada e realizada. Uma vida mais plena.

Motivo é aquilo que move a pessoa. Trata-se do “motor interno” que cada ser humano possui e que, automaticamente, é acionado por algum fator interior. Este está intimamente ligado aos desejos, impulsos ou necessidades.

Os motivos do ser humano foram alvo, durante o Século XX, de amplos estudos nas áreas da Psicologia e Administração. Há várias teorias motivacionais e cada uma delas, de alguma maneira, desvela aquilo que verdadeiramente faz funcionar o motor das pessoas.

O norte americano, psicólogo de linha humanista, Abraham Maslow (1908-1970), desenvolveu a Teoria das Necessidades. Nela poderemos enxergar, através de uma pirâmide, o que move as pessoas.

Suportando a estrutura, em sua base, encontram-se as necessidades fundamentais à vida. As chamadas necessidades fisiológicas, ou primárias (comida, água, respirar...). Logo acima serão encontradas as necessidades de segurança, de relacionamentos, de estima e de amor.

No alto da pirâmide posicionam-se as necessidades de realização pessoal, nomeadas por ele como necessidades secundárias. Ao reparar as pessoas será fácil observar aquilo que as está mobilizando. Um mendigo, por exemplo, se move pelas necessidades básicas.

Vista também como uma escada, logo se poderá reparar que, caso não se tenha atendida a necessidade, ou degrau mais baixo, será impossível que se galgue a necessidade ou patamar superior.

Outro psicólogo, também norte americano, chamado David McClelland (1917-1998) desenvolveu a Teoria das Necessidades Adquiridas. A partir de suas constatações ele mostra que os seres humanos são movidos por três necessidades básicas: realização, associação e poder.

Para McClelland o que move as pessoas será o fazer coisas, juntar-se a outros, ou ter aumentado o espaço de influência. Obviamente que essas três necessidades existem em todos. O que haverá de se buscar será aquela na qual se está colocando a maior parte dos esforços vitais. Ou dito de outra forma, constatar qual necessidade “dá partida” ao motor interior e continua a levar o veículo humano ladeira acima.

O americano Frederick Herzberg (1923-2000), depois de montar seu sistema de observação dentro dos ambientes de trabalho, elaborou uma teoria nomeada como dos Dois Fatores. Segundo ela duas ocorrências, às quais deu o nome de fatores, nos movem: higiênicos e os motivacionais.

A primeira ocorrência, os chamados fatores higiênicos, dizem respeito à manutenção do status quo. Conforme a teoria, fator higiênico é aquele que existindo, não necessariamente deixará motivadas as pessoas. Só que, ao contrário, caso faltem, com toda certeza, haverá desmotivação. Exemplos de fatores higiênicos são: ambiente de trabalho, salário, supervisão, gerenciamento...

Já os fatores motivacionais (aqueles que movem na realidade os seres humanos), diferentemente dos higiênicos que se colocam mais na dimensão do “ter”, se encontram presentes no caminho do “ser”. São fatores motivacionais os desafios, a realização pessoal, reconhecimento, responsabilidade, a “obra” a ser construída (visão)...

Há uma ferramenta muito mais antiga, experimentada e sábia para se conhecer os motivos das pessoas. Alguns autores consideram que ela existe há bem mais de dois mil anos. Trata-se do Eneagrama. Este instrumento, a partir de nove traços fundamentais, ou paixões, irá mostrar em profundidade o que realmente mobiliza cada ser humano.

Através do Eneagrama se observa que a criação humana se dá em uma “casa redonda” – bela metáfora da terra - e que nela o aprendizado acontece num sentido limitante. Acostumou-se a viver, ou seja a observar, sentir e experimentar o mundo a partir da própria janela.

Fato é que o ponto de vista ao qual se está habituado (a minha janela da casa redonda), acabou por condicionar – fixar - as reações diante da realidade. A partir do momento em que esse ponto de vista se enrijeceu, passou-se a achar que toda a realidade está contida naquilo que se está vendo, sentindo e vivenciando.

Trata-se de mera ilusão, eis que na casa redonda, de cada janela, só é possível experimentar um pedaço bem limitado do real (1/9 dele). Os nove traços do Eneagrama levam as pessoas a um posicionamento (o próprio ponto de vista) no mundo e nele, enrijecido porque não se visitou bastante as outras “janelas” da casa, cada um busca:

1 – A perfeição. Serei bom se for certo e conduzir corretamente as coisas.
2 – A ajuda aos outros. Serei bom se auxiliar as pessoas.
3 – A realização. Serei bom se fizer bastantes coisas, obtendo sucesso e reconhecimento.
4 – A beleza e a originalidade. Serei bom se for belo e original.
5 – A sabedoria. Serei bom se alcançar o saber profundo.
6 – A fidelidade e a coragem. Serei bom se for fiel às pessoas e agir com valor.
7 – A alegria. Serei bom se for alegre e passar leveza ao ambiente.
8 – O poder e a justiça. Serei bom se for poderoso e não deixar que haja injustiças.
9 – A paz. Serei bom se for pacífico e desta forma puder integrar as pessoas.


A sabedoria do Eneagrama, bem como as demais teorias motivacionais demonstram que nenhum ser humano é capaz de viver sozinho. Constituímos partes de uma imensa roda e esta somente poderá girar com leveza e rapidez, caso todos os seus pontos estiverem bem encaixados.

Por isso, conhecer-se mais e saber dos reais motivos que fazem homens e mulheres caminharem é, mais do que base para a liderança, necessidade vital a ser perseguida para o crescimento humano.

Cada uma das teorias motivacionais é possuidora de ganhos e vantagens. Dentre todas, o Eneagrama se configura em trilha rica e profunda, capaz de ajudar a quem queira se aventurar em sua antiga sabedoria, para desenvolver-se em qualquer cenário da existência, seja este o espiritual, pessoal, familiar, social, ou profissional.


 
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 02/06/2014
Alterado em 22/03/2017


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