Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Tendo filhos mortos pela violência, mulheres se reúnem para lutar por justiça. Pobres e moradoras de comunidades, ou seja, sem direito à voz e vez, elas batem muitas portas que não se abrem. A chance que têm é de ir às ruas e corajosas fazem isto. Expõem-se mostrando o rosto sofrido à sociedade “aborrecendo-a” até que escute as denúncias do que padecem e do que sofreram seus filhos.

Há uma palavra chave para ajudar-nos na compreensão das três leituras desse domingo. Trata-se do verbo insistir. Moisés insiste no cuidado e proteção do povo da Bíblia mantendo levantada a sua mão. Paulo diz a Timóteo para insistir na pregação da Palavra. Jesus nos traz a história da viúva insistindo até que lhe seja feita justiça.

As Mães de Acari no Rio, de Maio em São Paulo, da Praça de Mayo na Argentina e outros grupos mundo afora, podem remeter-nos ao Evangelho de hoje. Jesus deve ter tomado conhecimento de algum fato no qual uma mulher não conseguia justiça e perseverava insistindo. Conta-nos então, talvez a partir do que assistira essa parábola para não desistirmos daquilo pelo qual lutamos.

Pode ser que nos confundamos e achemos que devemos “aborrecer” Deus com excessiva obstinação. Não é bem assim. A insistência, como essas mães descobriram, deve acontecer na história. Será de maneira insistente que conseguiremos criar um mundo de mais justiça. Para isto devemos nos reunir, praticar a cidadania fazendo-nos valer entrando na luta. É necessário mostrar o rosto participando da defesa da justiça em todos os níveis e setores. Só assim, “aborrecidos” com a persistência, os poderosos, escutarão e atuarão conforme a justiça.

Não que seja de menor valia a oração, ao contrário é fundamental. Será com ela que nos aproximaremos do Senhor e teremos aumentada a intimidade com Ele. É a amizade e a intimidade com Deus que deve dar o sentido maior à nossa prece. Nessa linha os pedidos, insistentes ou não, que fizermos estarão integrados também aos agradecimentos, louvores e bendições que devemos àquele que nos cria.

Deus já sabe do que precisamos. Mais do que isto, o que necessitamos de verdade: a vida, a fé, a graça de discernir o que é necessário para que haja justiça, Isso tudo Ele já nos concedeu. Ganhamos muitos dons e seremos nós que deveremos, com eles, fazer a transformação do mundo. Será com a inteligência e os braços que temos que deveremos trabalhar para a justiça. O que precisamos pedir é que tenhamos coragem para esse trabalho. Um teólogo dizia com propriedade que: “quando Deus trabalha somos nós que ficamos suados”.

A primeira leitura nos apresenta cena da luta dos judeus contra os amalecitas. Nela precisamos também tomar cuidado para não acharmos que Deus é a favor das guerras e que gosta de uns e desgosta de outros Nada disto. Ele vai se revelando progressivamente e era assim, naquela época, que o povo judeu via Deus. Jesus, tempos depois, vem nos mostrar que o Pai é bom e que ama a todos, inclusive os amalecitas. Que tal interpretarmos essas mãos levantadas de Moisés como a sua doação insistente e perseverante ao povo? Mesmo cansado ele, com apoio dos demais, mantém-se no serviço.

A segunda leitura traz-nos Paulo exortando a Timóteo. Que ele não desanime e que a Palavra aprendida desde a infância, seja proclamada insistentemente. Paulo também sabe que somente insistindo com as pessoas, repetindo tudo o que precisam saber, é que a pregação dará frutos. Será assim pela persistência daqueles que nos trazem a Palavra, que nos apropriaremos da vida que há dentro dela. A Vida que deve nos conduzir ao serviço da justiça.

E o Evangelho termina de forma instigante: “será que Jesus, ao voltar, encontrará fé sobre a Terra?” Esta pergunta, uma maneira bem interessante de nos questionar, deve ser entendida não só a partir da pequenez da nossa fé, mas também no contexto das perseguições vividas pela comunidade Lucana. Os dois sentidos são válidos para nós. A sociedade nos “persegue” oferecendo-nos coisas para que deixemos o absoluto e relativizemos a fé. Ao mesmo tempo, precisamos cuidar dela para que cresça. Somente uma fé maior e amadurecida fará de nós essas pessoas insistentes, construtoras da justiça e da paz do Reino.

Para reflexão durante a semana:

- Sou dos que desistem com facilidade? Ou insisto na luta mantendo a mão levantada?
- Qual é o tamanho da minha fé? Ela é bem alimentada e crescente?
- Como está o meu compromisso com a justiça? Como o tenho demonstrado?

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1ª Leitura - Ex 17,8-13
Naqueles dias: Os amalecitas vieram atacar Israel em Rafidim. Moisés disse a Josué: 'Escolhe alguns homens e vai combater contra os amalecitas. Amanhã estarei, de pé, no alto da colina,
com a vara de Deus na mão'. Josué fez o que Moisés lhe tinha mandado e combateu os amalecitas. Moisés, Aarão e Ur subiram ao topo da colina. E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia; quando abaixava a mão, vencia Amalec. Ora, as mãos de Moisés tornaram-se pesadas. Pegando então uma pedra, colocaram-na debaixo dele para que se sentasse, e Aarão e Ur, um de cada lado sustentavam as mãos de Moisés. Assim, suas mãos não se fatigaram até ao pôr do sol, e Josué derrotou Amalec e sua gente a fio de espada.

2ª Leitura - 2Tm 3,14 - 4,2
Caríssimo: Permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras: elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para argumentar, para corrigir e para educar na justiça,
a fim de que o homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra. Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir a julgar os vivos e os mortos, e em virtude da sua manifestação gloriosa e do seu Reino, eu te peço com insistência: proclama a palavra,
insiste oportuna ou importunamente, argumenta, repreende, aconselha, com toda paciência e doutrina.

Evangelho - Lc 18,1-8
Naquele tempo: Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: 'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus,
e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!' Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!''
E o Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?'

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 12/10/2010
Alterado em 14/10/2010


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